segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

NOTA PÚBLICA DE REPÚDIO À DECISÃO DO JUIZ LUIS CARLOS HONÓRIO DE VALOIS COELHO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS



O conselho do Movimento Nacional de Direitos Humanos do Amazonas, com base nas atribuições deste Organismo não governamental voltado aos direitos humanos e em parceria ao Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Criança e Adolescente e outras instituições de atendimento e defesa dos direitos da criança e adolescentes, que tem como competência avaliar, acompanhar e subsidiar a execução do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Criança e Adolescente. Vem manifestar REPÚDIO à decisão do Juiz da Vara de Execuções Penais (VEP), Luís Carlos Valois, com a manifestação favorável do Ministério Público.


Na decisão, o magistrado cita que o ex-prefeito de Coari tem bom comportamento carcerário e atende os requisitos do Decreto Presidencial nº 8.940/2016, que trata do indulto presidencial. A aplicação do indulto que extingue a pena de Adail Pinheiro referente ao crime de exploração sexual de crianças e adolescentes, os quais eram sustentados com recursos públicos e sob proteção da máquina administrativa e de segmentos do Judiciário, conforme divulgações na mídia nacional.


A exploração sexual é crime previsto no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), imputável ao próprio agressor, ao aliciador, ao intermediário que se beneficia comercialmente do abuso.


Neste cenário de contradições e violências, entendemos que as crianças e adolescentes – vítimas dos crimes praticados por Adail Pinheiro – mais uma vez, tem seus direitos violados e, portanto estão sendo revitimizadas pelo Estado do Amazonas. Por esta razão, o MNDH/AM e as demais Instituições repudia de forma intransigente a decisão do Magistrado e do Promotor de Justiça. E requeremos ao Conselho Nacional de Justiça e ao Conselho Nacional dos Promotores Públicos que se posicione a respeito da referida decisão, estabelecendo as medidas legais cabíveis em relação ao magistrado e ao promotor, a fim de assegurar o respeito integral aos Direitos Humanos e o fortalecimento da democracia e justiça social.


Nosso compromisso de valorizar a pluralidade das vozes e de democratizar os espaços da mídia nos mobiliza a publicar esta nota. Esperamos que as autoridades, através de suas assessorias, tomem conhecimento do documento.


“AOS QUE ERGUEM A CLAVA FORTE DA JUSTIÇA”


A lógica patriarcal, sustentáculo das perversidades do sistema capitalista, não tem fronteiras: sobrepõe-se aos direitos civis e políticos dos povos e nações, transgredindo, assim, à ética universal dos seres humanos.


Apesar das perseverantes lutas através dos tempos e dos avanços por Igualdade, Autonomia, Liberdade, Solidariedade, Justiça e Paz, as instituições de atendimento e defesa dos Direitos Humanos a Criança e ao Adolescente ainda se impõem muitos desafios ao enfrentamento a discriminações, explorações, abusos, enfim, violências de várias ordens.


E, assim, reafirmamos nossos propósitos e compromissos.


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Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH- AM/RR

Comitê Nacional e Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual contra Criança e Adolescente – CEVSCA/AM

Rede ECPAT Brasil

Casa Mamãe Margarida

Conselho Regional de Serviço Social – CRSS/AM

Frente Parlamentar de Enfrentamento à Violência Sexual contra Criança e Adolescente - FRENPAC

Rede um Grito Pela Vida - Amazonas

Fórum Permanente de Mulheres de Manaus/AMB.

Associação das Donas de Casa do Estado do Amazonas – ADCEA

Conselho Estadual dos Direitos de Crianças e Adolescentes

Conselho Municipal de Direitos de Crianças e Adolescentes

Fórum de Saúde Mental

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

“A pergunta que não cala: o que um misógino e lgbtfóbico irá fazer no STF?”, pergunta jurista

Após a morte do Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Teori Zavascki, muitos nomes foram elencados para a vaga, dentre eles, o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins Filho, que de acordo com o próprio site do Tribunal, possui um perfil conservador, “dedicado ao trabalho e à vida religiosa”.



Gandra Filho teve seu nome repercutindo na mídia nos últimos dias após a notícia do Justificando revelando que, em 2012, o ministro publicou um artigo sobre Direitos Fundamentais no livro “Tratado de Direito Constitucional”, argumentando que as mulheres devem submissão aos maridos; que casamento deve ser indissociável e deve apenas acontecer entre o homem e a mulher. Além disso, comparou uniões homoafetivas ao bestialismo, usando como exemplo uma mulher casada com um cavalo.
Ao Justificando, a colunista, Advogada de movimentos sociais e Professora da Universidade Católica de Pernambuco, Carolina Ferraz, considera que a cotação do ministro para o cargo no Supremo é preocupante à violação a garantias e direitos fundamentais da diversidade.
Historicamente, afirma Carolina, o STF tem em sua composição homens brancos, conservadores, de classe média alta, heterossexuais, sendo que essas características refletem nas decisões excludentes. “O que justificaria a escolha do Ives Gandra Filho? Ele é branco, homem e extremamente conservador em seus escritos e na doutrina que produz sendo extremamente desigual com as mulheres – a quem segundo ele devem ser submissas aos homens – e desconhecendo a igualdade constitucional dos casais lgbts” – afirmou a professora. 
“A pergunta que não cala é o que alguém misógino e lgbtfóbico irá fazer no STF? A opção tricô não vale!” – afirmou a professora Carolina Ferraz. 

É preciso que todos os juristas sensatos, sensíveis às questões da diversidade se manifestem contrários a essa nomeação e eu começo essa campanha: Eu sou contra a nomeação do Ives Gandra Filho para o STF!” – protestou Carolina.
O ex Procurador Geral do Estado de São Paulo, Marcio Sotelo Felippe, concordou e classificou Ives como um homem “pré-moderno” – “É um homem pré-moderno. Sequer assimilou as conquistas do Iluminismo. Ele pensa como ser do medievo. Seria um retrocesso terrível, particularmente em aspectos em que o STF tem dado alguns passos adiante, mesmo timidamente, como na questão da maconha. As trevas encobrem este país. Uma lástima”
Já o Professor de Ciência Política da Universidade de Brasília, Luís Felipe Miguel, entende que “é aberrante que, em pleno século XXI, alguém mantenha tais posições. Mais aberrante ainda que esse alguém esteja cotado – como favorito! – para ocupar uma cadeira em uma corte suprema”.
O espanto pela entendimento jurídico de Gandra Filho foi resumido pelo Procurador de Justiça aposentado e Professor Livre Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Afrânio Silva Jardim, ao comentar os posicionamentos acadêmicos de Ives – “Engana-se quem imagina que o STF não poderia se tornar ainda pior”.

Me respeita.

Por Cassia Quezia para o Portal Geledés


Me respeita pq não sou tua!
Chega de brincadeira,
De dizer que me ama, só pra me ter na cama.

Meu corpo não é objeto
nem lata de lixo
pra depósito de bicho!

Não me toca,
não te dei permissão,
aceita o meu NÃO.

Eu como mulher,
Tenho que saber me defender,
pra não ser estuprada por caras como você.
Menina de 11 anos mãe,o pai é o pai,
pai da mãe avó da criança.
A mina sofre sendo julgada,
pq não fechou as pernas,
quando na verdade,
você não tinha que ter tocado nela!

Ela é inocente,
diferente de você que não tem consciência e estupra uma criança sem ao menos ter chegado na adolescência!

Que sociedade nojenta,
que defende quem estupra e culpa
quem lutou para não ser mais uma vítima dessa cultura!

Cultura machista, que acha que pode tudo só pq tem uma pica.
Não é vitimismo nem minimi,
são só fatos de caras com sorriso no rosto, por ter tido o gosto de ter tocado em algum corpo.

Corpo esse que não queria,

pediu, implorou, até que lágrimas derramou, perdeu o sono está depressiva pq acha que ela é culpada, por ter sido estuprada.NÃO, nao, não tem a ver com horário, quando o cara é safado,
faz e faz dnv pq sabe que não existe lei do retorno!

Pelo menos não pras minas,
que lutam sozinhas,
de mãos dadas para não serem esquartejadas, estupradas, queimadas e empaladas.

Caso contrário,
tiram sua própria vida pra não ser mais uma vítima dessa cultura machista.

Cultura que culpa a vestimenta, quando na verdade tinham que matar o autor da cena.

Por todas as minas estupradas, empaladas, queimadas, a nossa voz de desculpa, por não ter conseguido ainda, acabar com essa cultura!

Movimento Negro no Brasil: novos e velhos desafios.

Ao longo dos últimos 25 anos, são muitas e ricas as ações de combate ao racismo que vimos desenvolvendo. Construímos excelência em alguns campos que tem resultado em avanços reais da questão racial. Como nos alerta Maria Aparecida da Silva, a educação é uma das áreas em que figura o maior número de experiências concretas e produção teórica no escopo de trabalhos implementados pelo Movimento Negro contemporâneo. Desde os primeiros anos da década de 80, dois aspectos vêm sendo abordados com ênfase, o livro didático e o currículo escolar.

Publicado originalmente no CADERNO CRH, Salvador, n. 36, p. 209-215, jan./jun. 2002
No que tange ao livro didático, denunciou-se a sedimentação de papéis sociais subalternos protagonizados por personagens negros e a reificação de estereótipos racistas. Apontou-se em que medida essas práticas afetam a formação de crianças e adolescentes negros e brancos, destruindo a auto-estima do primeiro grupo e, no segundo, cristalizando imagens negativas e inferiorizadas da pessoa negra, em ambos, empobrecendo o relacionamento humano e limitando as possibilidades exploratórias da diversidade racial, étnica e cultural.

No que se refere aos currículos escolares, chamou-se atenção para a ausência dos conteúdos ligados à cultura afro-brasileira e à História dos povos africanos no período anterior ao sistema escravista colonial. Houve várias iniciativas de inclusão destes temas nos currículos formais de certas escolas, ou mesmo redes de ensino de algumas cidades brasileiras. Entretanto, esbarrou-se no problema da falta de formação do professorado para tratar essas questões em sala de aula. Mais recentemente, duas novas linhas de ação têm sido evidenciadas pelo movimento negro, a capacitação de educadores e a produção de recursos didático-pedagógicos para discussão do racismo, da discriminação racial e compreensão das desigualdades geradas por eles.
Avanços significativos se processaram no combate ao racismo do ponto de vista legal, constituindo uma nova e vigorosa área de atuação e produção de conhecimento, a do “Direito e Relações Raciais”, com crescente engajamento de operadores do direito, instituições jurídicas e a proliferação dos SOS Racismo, tanto no Brasil como em alguns países da América Latina.
Avançou a organização política das comunidades remanescentes de quilombos, adquirindo dimensões nacionais. Cresceu a participação dos negros nos meios de comunicação e a consciência da exclusão da imagem negra nesses veículos.
O movimento de mulheres negras emergiu, introduzindo novos temas na agenda do movimento negro e enegrecendo as bandeiras de luta do movimento feminista.

É significativo o crescimento do número de militantes negros adquirindo títulos acadêmicos, resgatando a condição do negro como sujeito do conhecimento, especialmente o conhecimento de si próprio. Passamos de objeto de estudo a sujeitos do conhecimento, fazendo com que a Universidade comece a se constituir como um importante campo estratégico de atuação.
Apesar deste conjunto de ações, creio que ainda persiste entre nós um sentimento de insatisfação em relação à nossa trajetória política. Vivemos momentos de paradoxos e perplexidades. Momentos, a meu ver, de reciclagem da nossa velha democracia racial, que sinalizam a antecipação das elites desse país diante do avanço da questão racial. Quais são os sinais que nos permitem caracterizar esse momento?
Parece que a Rede Globo de Televisão resolveu fazer ação afirmativa por sua própria conta e então estabeleceu uma cota mínima de um e máxima de três negros por novela. Estou certa de que vimos lutando para ampliar a presença negra nos meios de comunicação, mas também tenho certeza de que nunca definimos essa cota estabelecida pela Globo!
Nas propagandas é perceptível o aumento da presença negra. Nós também lutamos por isso. No entanto, não é nossa a definição de que basta um negro perdido numa multidão de brancos para expressar uma perspectiva inclusiva. Ou seja, não é nossa a definição de uma imagem negra que exprime uma inclusão minoritária e subordinada, como espelha a maioria das propagandas em que os negros são mostrados.
Há diversos produtos editoriais segmentados para negros, cujo traço comum é o estabelecimento de um “novo” padrão estético que, supostamente, atende às necessidades de modernização da imagem do negro. Isto significa que lutamos por produtos específicos para a nossa população, mas não conseguimos determinar as características destes produtos. É o mercado que o faz.
Mas por que não conseguimos manter o controle sobre processos que nós mesmos desencadeamos?
Por que não temos instrumentos de monitoramento dos desdobramentos de nossa ação? Por que todos esses novos eventos não são apresentados, a nós e à sociedade abrangente, como produto de nossa ação política, construída ao longo de décadas de denúncia e reivindicações? Tudo acontece como se fosse fruto de geração espontânea ou de uma disposição repentina de valorização da diversidade que teria acometido a sociedade. O que permite que sejamos expropriados de nossa própria prática política.
Referindo-se ao seminário sobre multiculturalismo, organizado pelo Ministério da Justiça, o vice-presidente Marco Maciel, afirmou que o mesmo indicava “que o Estado brasileiro está finalmente engajado em um aspecto que diz respeito às suas responsabilidades históricas, em relação às quais sucessivas gerações da elite política brasileira sempre demonstraram um inconcebível alheamento.”1
A partir dessa fala, entendo que o Estado busca recuperar a iniciativa sobre o ordenamento das relações raciais, ao mesmo tempo em que expropria o movimento negro da condição de sujeito de um processo no qual, em verdade, o Estado foi obrigado a intervir sob pena de perder o controle; a ele, portanto, caberia estabelecer os limites em que o debate deve se processar. Exemplo concreto disso foi o papel secundário, ou de mero coadjuvante, reservado à militância negra do Brasil no contexto daquele seminário, caracterizando o mesmo processo de alijamento que ocorre em outras instâncias da sociedade.
Assim, reitero, as conquistas que negros e negras vêm obtendo na desmistificação da democracia racial, na maior visibilidade do racismo e na reversão de certas práticas discriminatórias, longe de legitimar nossa ação política enquanto movimento social, têm servido para subsidiar o que eu chamo, na ausência de melhor conceito, de neo-democracia racial. Esta atende a pelo menos dois interesses.
O primeiro, de ordem política, visa amortizar a crescente tomada de consciência e a capacidade reivindicatória dos afro-descendentes, especialmente o segmento mais jovem, assim impedindo que o conflito racial se explicite com toda a radicalidade necessária para promover a mudança social. O segundo interesse, de ordem econômica, é determinado pela lógica de mercado estabelecida pelo capitalismo globalizado, ávido por novos mercados, o qual antevê, na potencial consolidação de uma classe média negra, a viabilização de um novo mercado consumidor.
Para atender a estes dois interesses, a neo-democracia racial estabelece a capacidade de consumo como o limite da cidadania negra. Desse modo, no novo desenho de relações raciais que se delineia às portas do novo milênio, o status de consumidor é garantido a alguns afro-descendentes, enquanto, por outro lado, ampliam-se os mecanismos de exclusão social da maioria.
Então, onde fica o movimento negro? Temos reivindicado em vários campos por políticas públicas, por políticas de ação afirmativa. Contudo, reivindicamos políticas sem querer fazer política no seu sentido mais amplo, sem atentar para as condições em que se trava a luta política. Enfim, sem priorizar a construção da organização política que possa viabilizar as nossas reivindicações.
Apesar dos nossos esforços, a questão racial não está na agenda nacional! Ela não tem merecido apoio público de nenhuma força política relevante, só sendo referida quando se trata de momentos eleitorais. Como, então, um tema ausente da agenda nacional pode se transformar em objeto de políticas públicas?
A lenta absorção da dimensão racial pelas instituições tem se dado porque, como diz um ex-deputado de São Paulo, ao contrário de outros movimentos sociais, o movimento negro não conspira, não tem lobby, não negocia as suas diferenças em prol de um objetivo estratégico. Este objetivo estratégico não é outro, senão a mudança das condições materiais da população negra, pois o que move a ação política é o desejo de mudança. E isso exige ir ao encontro do nosso povo.
Somos um movimento de denúncia ou de transformação? Como vimos, temos até sido propositivos no que concerne à eliminação das desigualdades raciais.
Na Marcha de 95, construímos um documento de consenso que contém um Programa de Superação do Racismo e da Desigualdade Racial.2 No entanto, não assumimos coletivamente nenhuma responsabilidade de monitoramento da implementação ou não daquele Programa.
Mesmo assim, temos sido eficientes na denúncia da farsa da democracia racial. Construímos massa crítica sobre diferentes temas: educação, saúde, direito e relações raciais, a luta pela terra, gênero; com a nossa prática política e nossa experiência histórica de opressão, redefinimos as noções de democracia, cidadania e direitos humanos. Isto faz de nós agentes civilizatórios desta sociedade.
Contudo, ainda não construímos uma organização política reconhecida como interlocutora dos interesses da nossa coletividade, que articule os avanços nos diferentes campos, em torno de um projeto político que tenha como eixo fundamental a mudança das condições de vida de nossa gente, que otimize o capital político, o capital financeiro, o capital social, os recursos humanos e materiais dispersos nas diferentes formas de combate ao racismo.
Ainda não construímos uma organização política capaz de identificar os elementos mobilizadores de nossa comunidade, de forma a possibilitar a massificação do movimento, de demonstrar força política e organizativa, e capacidade de colocar em risco a governabilidade, que é o que usualmente obriga o poder a negociar. Não temos uma forma organizativa que nos permita disputar poder real nessa sociedade.
Talvez nunca, como agora, essa questão tenha sido colocada de maneira tão crucial, pois, a despeito de nossas debilidades organizativas, temos promovido o avanço da questão racial na sociedade.
Porém este avanço se dá sem direção, sem liderança, sem uma estratégia política que o informe. Por isso, o projeto político, que deveria ser nosso, começa a ser definido por forças externas, e até contrárias, ao movimento: o mercado, os governos, as empresas, os meios de comunicação. É a isso que eu venho chamando de neo-democracia racial.
Considero, portanto, que a nossa debilidade organizativa é que explica porque não mantemos o controle sobre os desdobramentos de nossa ação, porque todos esses novos eventos de valorização da diversidade são apresentados como se nada tivessem a ver com a nossa luta.
Resta analisar a que se devem as nossas dificuldades no plano organizativo. Em primeiro lugar, a militância do presente não presta tributo, não se referencia nas experiências históricas de organização política no continente africano e na diáspora.
Não esgotamos, por exemplo, as possibilidades políticas abertas pela experiência extraordinária do Quilombo dos Palmares, ou até mesmo da Frente Negra Brasileira – FNB. Como foi possível, naquele momento histórico, construir um tipo de organização como a FNB, que chegou a formar um partido negro?
Por que a Frente Negra, ao contrário de todos os partidos extintos pelo Estado Novo, não se rearticulou após 1946?
Nunca fizemos um exercício efetivo de avaliar a potencialidade política do Quilombismo de Abdias do Nascimento. Esquecemos as lutas de libertação dos países africanos, não nos inspiramos nas teses de Kwame N’Krumah, de Amílcar Cabral, de Agostinho Neto, de Patrick Lumumba. Perdemos a perspectiva expressa na tradição pan-africanista. Deixamos de nos fazer muitas perguntas: em termos organizativos, há algo a aprender com o Congresso Nacional Africano – CNA – da África do Sul? O pensamento de Steve Biko responde a alguma dimensão da luta racial travada no Brasil? O pensamento de Malcolm X pode aportar alguma contribuição à luta dos negros brasileiros? E o movimento de direitos civis, liderado por Martin Luther King? Deixou lições que interessam ao nosso processo? Se não é a nossa história de lutas, quem, ou o que informa hoje a nossa prática política?
Os brancos revisitam os seus clássicos, especialmente nos momentos de crise. As novas gerações de militantes negros sequer conhecem os nossos, pois não criamos meios de transmitir nosso patrimônio libertário. Onde foram parar os nossos encontros regionais, que durante anos foram elementos de socialização de experiências diversas e que afinavam a nossa análise de conjuntura?
Como um movimento transformador pode levar 8 anos para construir um II Encontro Nacional?
À beira de um novo milênio, assistimos, impotentes, à novela “Terra Nostra”, da Rede Globo de Televisão, na qual personagens brancos, diante de milhões de espectadores, afirmam que italianos não poderiam ir para senzala porque “são brancos, trazem no coração o espírito da liberdade…”
Consentimos que um jovem personagem negro reclame, na mesma novela, “Deus não quis me embranquecer”.
À beira de um novo milênio, permitimos que intelectuais brancos, racistas, sintam-se à vontade para desqualificar, ridicularizar e ofender a militância negra, sem esboçar uma resposta coletiva, uma reação organizada.

A construção de estratégias coletivas de luta é produto de organização política, de liderança reconhecida e legitimada. Nossa responsabilidade histórica é responder aos desafios que estão colocados, através de uma expressão política que represente os anseios do povo negro desse país. Este é um desafio político fundamental para a militância negra no presente.





Blackface não é homenagem: Espetáculo “Trem de Minas” tem ator branco caracterizado de personagem negra de forma estereotipada

O caráter racista da PEC 55 - hoje EC 95/2016.

Cortar investimentos públicos significa manter os negros nos grilhões

Por Djamila Ribeiro, para Carta Capital

Simone de Beauvoir nos ensinou que a conquista de direitos não é algo permanente. Ao contrário, deve-se sempre manter vigilância e lutar para mantê-los. Essa afirmação nunca fez tanto sentido quanto agora, num momento de atentado aos direitos fundamentais. A aprovação da PEC 55, que limita de forma drástica o investimento em saúde e educação por 20 anos, é um aviltamento, sobretudo para a população negra e periférica.
Importante frisar que a não implementação de políticas públicas na área da saúde atinge diretamente mulheres negras, as que mais sofrem com mortalidade materna e violência obstétrica. Importante nomear o quanto essas medidas são racistas.
Segundo dados da campanha “SUS Sem Racismo”, mulheres negras costumam receber, em média, menos tempo de atendimento médico que as brancas e compõem 60% das vítimas da mortalidade materna no Brasil. Além disso, somente 27% das negras tiveram acompanhamento durante o parto na pesquisa, ao contrário dos 46,2% das mulheres brancas.
E 62,5% receberam orientações sobre a importância do aleitamento materno, preteridas em favor dos 77% das mulheres brancas. De acordo com dados de 2013, divulgados da Organização Internacional do Trabalho, mais de 93% das crianças e dos adolescentes envolvidos em trabalhos domésticos no Brasil são meninas negras.
Segundo dados do relatório “Criança Fora da Escola 2012”, do Unicef, cerca de 1 milhão de jovens estavam fora da escola. O não investimento em políticas públicas configura a manutenção da estrutura racista e machista, a legitimação da ordem.
É necessário frisar a importância do debate racial como nexo prioritário das lutas contra os retrocessos que virão e em todas as políticas de modo transversal.
Nos últimos 13 anos existiram avanços significativos em relação à promoção da igualdade racial, sobretudo na área da educação, com a ampliação das universidades federais e a Lei de Cotas. Em vez da ampliação dessas conquistas, assistimos a saídas regressivas que se intensificam após o impedimento da presidenta Dilma Rousseff.
Angela Davis, em Mulheres, Raça e Classe, diz: “De acordo com a ideologia dominante, a população negra era supostamente incapaz de progressos intelectuais. Essas pessoas haviam sido propriedade, naturalmente inferiores, quando comparadas ao epítome branco da humanidade. Mas, se fossem realmente inferiores em termos biológicos, as pessoas negras nunca teriam manifestado desejo nem capacidade de adquirir conhecimento. Portanto, não teria sido necessário proibi-las de aprender” (pág. 109).
Medidas como a da PEC 55 proíbem a população pobre, sobretudo a negra, de aprender e sair dos lugares estruturados pelo racismo. É necessário frisar o caráter racista desse retrocesso e, a partir daí, pensar saídas emancipatórias que fundamentalmente valorizem essas interseções.

Mulheres da América Latina se reúnem para discutir estratégias na luta por direitos

Encontro “Diálogo Mulheres em Movimento: Direitos e Novos Rumos” termina hoje dia (27) no Hotel Vila Galé, no Rio de Janeiro



 O evento “Diálogo Mulheres em Movimento: Direitos e Novos Rumos”. O encontro reúne mulheres de todo o Brasil e da América Latina para discutir estratégias para fortalecer a luta pela igualdade de gênero na região. A iniciativa é promovida pela organização social Fundo ELAS, em parceria com o British Council e a Open Society Foundation Brasil.
A programação conta com a participação de 140 ativistas, incluindo representantes de movimentos estudantis, negros, indígenas, LGBT, de trabalhadoras domésticas, e tantos outros. A coordenadora-geral do Fundo Elas, Amália Fisher, fez a abertura e um breve discurso sobre a história do grupo e a preocupação com o contexto político atual. Segundo ela, a angústia diante da situação tem sido também um combustível para buscar investir cada vez mais nas pautas feministas como forma de combate à opressão.
Nadine Gasman, da ONU Mulheres, falou sobre os exemplos positivos dados pelo Brasil do ponto de vista da mobilização social, como a Marcha das Margaridas e a ocupação nas escolas públicas. Ela citou o movimento mundial de mulheres contra o presidente norte-americano Donald Trump e a necessidade de promover a diversidade para que 2017 possa ser melhor do que o ano passado. “Sem desenvolvimento das mulheres, não há sociedade justa e pacífica”, afirmou.
Jolúzia Batista, representante da ONG CFEMEA, ressaltou a ascensão do conservadorismo e lembrou que os poucos avanços que as feministas conseguiram recentemente, como uma lei que regula o atendimento a vítimas de violência sexual, ainda são questionados por bancadas religiosas no Congresso Nacional. “Nosso corpo é nosso território e não território de disputa conservadora”, enfatizou.
A presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza Oliveira, fez uma fala emocionada sobre a trajetória da entidade, comentou ainda a respeito da regulamentação da profissão em 2013 com a ‘PEC das Domésticas’, a ameaça às conquistas trabalhistas do atual governo e o genocídio da juventude negra no Brasil.

E Dandara dos Palmares, você sabe quem foi?

 Por Jarid Arraes







Novembro é oficialmente o Mês da Consciência Negra no Brasil. Apesar de ser importante e necessária, especialmente por se tratar de um país que teve séculos de escravidão de pessoas negras, essa data ainda é bastante incômoda para uma parcela da população. Mesmo assim, o mês de novembro mobiliza o movimento negro e desperta um interesse temporário nas escolas, instituições e noticiários, que costumam abordar o tema do racismo superficialmente no período próximo ao dia 20.
Aqueles que falam dessa data muitas vezes se recordam de Zumbi dos Palmares, que é o grande ícone da luta contra o racismo por sua resistência contra a escravidão. Mesmo na escola, muitos ouvimos falar de Zumbi e aprendemos que ele foi líder do Quilombo de Palmares, onde negras e negros que fugiam da escravidão podiam encontrar refúgio e organização política. No entanto, pouquíssimos sabem de quem se tratava Dandara dos Palmares, uma figura tão importante quanto Zumbi.
Dandara foi esposa de Zumbi e, como ele, também lutou com armas pela libertação total das negras e negros no Brasil; liderava mulheres e homens, também tinha objetivos que iam às raízes do problema e, sobretudo, não se encaixava nos padrões de gênero que ainda hoje são impostos às mulheres. E é precisamente pela marca do machismo que Dandara não é reconhecida ou sequer estudada nas escolas. Lamentavelmente, nem mesmo os movimentos negro e feminista mencionam Dandara com a frequência que deveriam. De um lado, o machismo, que embora conte com o trabalho árduo das mulheres negras, não lhes oferece posição de destaque e voz de decisão. Do outro, o racismo, que só tem memória para mulheres brancas.
Nós, mulheres negras, crescemos sem nos encontrarmos nos livros de história, poesia, literatura ou sociologia. O machismo racista da sociedade parece nos dizer que não temos o direito de encontrar representatividade e inspiração para rompermos as amarras da discriminação institucional. Muitas sabemos de Dandara e outras mulheres negras importantes somente devido a nossas próprias pesquisas solitárias, ávidas por descobrir. E, infelizmente, somos nós as mesmas pessoas que lutam para que essas mulheres não sejam apagadas da história.
Alguns pesquisadores, como o professor Kleber Henrique, que escreveu este belíssimo texto sobre Dandara, evidenciam o papel dessa grande líder e falam de sua sede por liberdade. Mas salientam que até hoje não se tem conhecimento de como era o seu rosto ou de onde veio. Se Dandara fosse uma mulher negra contemporânea, provavelmente seria mal vista por todos que se negam a enxergar o racismo. Dandara não queria acordos pela metade e nem se vendia em troca de libertação parcial. Morreu como a heroína que foi em vida e, graças à sua luta, hoje temos força para continuar a batalha contra o racismo brasileiro.
Portanto, me recuso a aceitar que Dandara seja figura esquecida ou que continue sendo lembrada sob a sombra masculina de Zumbi. A mulher negra quer e conquista seu espaço, pois tem força, inteligência e capacidade para romper com paradigmas machistas e racistas. O mês da Consciência Negra precisa ser cada vez mais o mês de Dandara dos Palmares, da autonomia absoluta da mulher negra e da completa liberdade feminina, que protagoniza as trincheiras da resistência contra a discriminação por cor e gênero. Dandara vive.
Conheça o livro As Lendas de Dandara: www.aslendasdedandara.com.br


Ser mulher, ser negra. Mulher negra, uma luta bem maior por seus direitos.

O presente artigo aborda sobre o papel da mulher negra dentro dos movimentos feministas e nos movimentos negros, sendo que por ser mulher e negra tem uma trajetória bem maior e mais dificultosa na luta por seus direitos na sociedade. O artigo tenta fazer uma análise da mulher negra nos diversos espaços sociais, seja ele na mídia, no mercado de trabalho, na busca do direito a uma saúde qualificada e pelo simples direito de ir e vir com liberdade, sendo o que é.
Vivemos em uma sociedade ainda muito marcada pelo machismo. É freqüente ver nos noticiários, casos de agressões contra mulheres, em muitos casos dentro de seus lares. Hoje temos uma mulher na presidência da República que com certeza foi um grande avanço para a busca da igualdade de gênero, mas ainda é difícil ver mulheres nos espaços de poder, seja na política(apesar das cotas), nos cargos de chefia nas grandes empresas e em outras áreas do mercado de trabalho.A diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo é muito grande, mesmo o nível de escolaridade das mulheres sendo maior ou igual.Como aponta a pesquisa da Revista Brasil Atual(2011).
A pesquisa mostrou aumento da participação de trabalhador com ensino superior completo, de 11,7% para 15% da População Economicamente Ativa (PEA). Entre as mulheres, essa proporção já chegou a 17,1%, ante 13% dos homens. A presença feminina entre a PEA com nível superior ultrapassou a masculina e atingiu 53,6%. Em 2010, os homens eram maioria (51,3%).(REVISTA BRASIL 2011).
Sem falar que, a mulher ainda possui uma dupla jornada de trabalho, pois são elas as maiores responsáveis pelos cuidados com os filhos e os afazeres domésticos em seus lares, algumas delas, mães solteiras.
Existe também a luta por seus direitos reprodutivos, que também é pauta dos movimentos feministas, ou seja, o direito da mulher sobre seu corpo, sobre a decisão se quer ou não ter filho, algo tão criticado pelos conservadores influenciados pela igreja.Isso é mais uma questão que retrata a desigualdade entre mulheres de alta e baixa renda, negras e brancas, pois o aborto mesmo que não sendo legalizado, existem inúmeros casos de mulheres que optam por ele, por conta de gravidez indesejada.
Enquanto uma mulher rica, na maioria das vezes branca, realiza o aborto em uma clínica que mesmo que clandestina oferece segurança para tal procedimento, uma mulher pobre e na maioria das vezes negra, realiza no fundo de um quintal correndo risco de infecções seríssimas e consequentemente, risco de vida.
No entanto, o movimento feminista não deve lutar apenas por políticas públicas universalistas, pois há sim uma diversidade nesse movimento e com certeza algumas com privilégios e outras não. É importante ressaltar o papel das mulheres negras dentro dos movimentos feministas, que com certeza têm uma trajetória de luta bem maior dentro de tais movimentos, por carregar consigo o peso do preconceito racial tão presente ainda nos dias de hoje.Como bem diz Chagas da Silva Santos(2009):”Ser mulher e negra no Brasil significa está inserida num ciclo de marginalização e de discriminação social.”
Quando se fala sobre mercado de trabalho e nível de escolaridade das mulheres em relação aos homens, como já foi citado, há sempre um nível grande de desigualdade e quando comparado entre mulheres brancas e mulheres negras essa diferença é gritante. Comparando o nível de escolaridade entre mulheres brancas e mulheres negras, se pode observar uma real desigualdade, além das mulheres negras ocuparem os empregos mais desvalorizados socialmente. Chagas da Silva Santos(2009) diz que: “[…]para as mulheres afro-descendentes o mercado reserva as posições menos qualificada, os piores salários , a informalidade e o desrespeito”.
As mulheres feministas repudiam e lutam contra a imagem da mulher mostrada na mídia, sendo colocada como objeto, tendo um grande apelo sexual. É muito comum ver a comparação da mulher sarada e loira a cerveja gelada, ou mostrar mulheres usando do apelo sexual para consegui algo em benefício próprio, como foi o caso do comercial de um marca de lingerie, mostrando a top model, Gisele Bundchen usando do corpo para consegui algo do homem. A mídia ao longo do tempo contribuiu para essa depreciação da imagem da mulher e em relação à mulher negra o desrespeito é ainda maior, pois além de ser associada a uma imagem também muito voltada para sexualidade, sua posição na mídia é sempre subalternizada.Nas telenovelas é comum ver as negras em situações de submissão no que compete as mulheres brancas(empregadas, prostitutas e etc), isso é um retrato da desigualdade racial, onde a mulher negra encontra-se em um patamar de submissão.
Têm-se poucos casos de mulheres negras que protagonizam novelas, mas recentemente se teve primeira “Helena” negra de Manoel Carlos, interpretada pela atriz Taís Araújo, mesmo sendo mostrada na novela a história de uma mulher negra bem sucedida na vida, sua irmã, também vivida por uma atriz negra, vivia uma história paralela a sua, um romance com um traficante da favela(também negro), ou seja, a imagem da mulher negra está sempre ligada a uma situação de marginalização. Carneiro (2003) diz: “Esperamos que a mulher negra seja representada levando-se em conta o espectro de funções e as habilidades que ela pode exercer, mesmo em condições econômicas adversas”.
O padrão de beleza imposto pela mídia também é algo bem marcado, o estilo “Barbie” ainda é predominante como padrão de beleza, bem diferente do que é a mulher brasileira. A ditadura do cabelo liso e loiro faz com que muitas mulheres negras neguem sua identidade não por vontade própria, mas para serem aceitas no meio social, no mercado de trabalho e inclusive na mídia, esse é o famoso embranquecimento da diversidade.
Para contrapor esse padrão de beleza do cabelo liso, surgiu em Brasília o projeto “Cabelo que Deus me deu” proposto pela rapper Nine Ribeiro, em parceria com ONGs e diversas instituições, que busca a valorização da diversidade e estimulando a auto-estima de mulheres com cabelos crespos e cacheados, para que se assumam como são, buscando sua identidade afro-descendente. O projeto visa também realizar diversas oficinas sobre diversidade, como cuidar dos cabelos crespos e cacheados, oficinas de dreads, trança raiz, rastafári, confecção de acessórios e artesanato, palestras com dermatologistas e eventos musicais, tudo isso afirmando e valorizando a cultura negra.
É comum ver nas propagandas produtos para cabelos crespos e cacheados, todos eles voltados para a redução de volumes para que os cabelos fiquem “comportados”. Basicamente, esses produtos fazem com que as mulheres que possuem esses tipos de cabelos se enquadrem ao sistema ou pior, não se aceitem como são.
A saúde da mulher negra também é uma questão bastante crítica na sociedade, pois muitas delas encontram-se infelizmente nas periferias e conseqüentemente são usuárias do SUS (Sistema Único de Saúde), que ainda não atende de forma qualificada a população e em relação às mulheres brancas que se utilizam do SUS, as mulheres negras mais uma vez são alvo da discriminação e segregação. A busca pelo acesso e melhoria da saúde da mulher é uma pauta pertinente dos movimentos feministas, e da saúde da mulher negra também é uma pauta pertinente dos movimentos de mulheres negras. O governo federal através do Ministério da Saúde tem promovido políticas voltadas para a saúde da Mulher. “Em 2003 teve início a construção da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios e Diretrizes”(PORTAL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE).Essa atenção vai desde atendimento ginecológicos, programas contraceptivos e , acompanhamentos de pré-natal e partos humanizados.
O Ministério também promove políticas públicas voltadas para a população negra lançado desde 2006, que se volta para doenças que são muito comum entre os negros(ex: Anemia Falciforme), além de combater o racismo institucional.
No entanto as políticas públicas voltadas para saúde da mulher requer políticas especifica voltada para as mulheres negras. A Revista Raça(2012) fez uma pesquisa sobre a atenção que deve-se ter a saúde da mulher, inclusive no tratamento que deve ter quando essa mulheres encontram-se em trabalho pré-natal, trabalho de parto e pós parto.
[…] ações educativas – a gestante deve ser orientada sobre os riscos, como identificar precocemente os sin¬tomas e os cuidados necessários na hipertensão arterial e diabetes mellitus. É preciso enfatizar também a necessidade da triagem neonatal, que inclui o diagnóstico da ane¬mia falciforme.
– Sensibilização e capacitação de pro¬fissionais de saúde – incluir conteúdos sobre diferenciais étnico/raciais nas condições de vida e na saúde da população nas capacitações de profissionais da rede básica e dos serviços de referên¬cia e das maternidades.
– “Quesito cor” nos documentos e siste¬mas de informação do SUS – incluir a informação sobre a cor nos sistemas de informação e nos documentos do SUS.
– Pré-natal – é fundamental garantir que seja aferida a pressão arterial de todas as gestantes em todas as consultas de pré-natal. Caso haja qualquer alteração nos níveis de pressão das gestantes negras, é necessário dar atenção especial com o devido acompanhamento e encaminhamento para serviços de alto-risco. Atentar também para resultados de glicemia, garantindo a realização de todos os exames de rotina. (REVISTA RAÇA)..
Em meio a sociedade racista, machista e segregadora, a busca pela liberdade se torna uma bandeira de luta de muitas mulheres, em especial das mulheres negras, sejam elas dentro ou não dos movimentos feministas, nos movimentos negros, nas periferias, nas universidades, e no mercado de trabalho. E essas lutas devem ser pautadas para que se transformem em políticas públicas, onde o Estado faça valer os direitos constitucionais, mas levando em conta as especificidade do povo brasileiro e principalmente a diversidade da mulher.
Até quando se irá conviver com a desigualdade de gênero e desigualdade racial?A luta das mulheres negras é incansável, mesmo com todo o sistema contra, elas continuam na batalha, mudando suas vidas, abrindo seus terreiros, liderando movimentos, seja eles na cidade ou nos acampamentos Sem.Terra, criando seus filhos, trabalhando, entrando nas universidades, tentando resistir a toda violência simbólica, violência essa que insiste em permanecer como resquícios da escravidão do país e de uma abolição nada emancipadora para população negra.Ser mulher e ser negra hoje é principalmente, nascer para ser forte.

Bibliografia:
Portais acessados:
BRASIL ATUAL, Revista. Pesquisa sobre mulheres no mercado de trabalho mostra alguns avanços e velhos problemas. Disponível em: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/trabalho/2011/03/mulheres-no-mercado-de-trabalho-alguns-avancos-e-velhos-problemas
CHAGAS DA SILVA SANTOS, Walkyria.A mulher negra brasileira. Disponível em:
http://www.africaeafricanidades.com/documentos/A_mulher_negra_brasileira.pdf
CARNEIRO,Sueli.Mulheres em movimento. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103
REVISTA RAÇA BRASIL.A saúde da mulher negra. Disponível em: http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/111/artigo52408-1.asp
Fonte: Geledes